O teatro contemporâneo e suas antíteses: do minimalismo ao exagero.

 Helloooo, Helloooo, Helloooo...


 

Com imensa tristeza comunico a nossa última parada dessa grande viagem.

Hoje, finalizamos este nosso passeio pela história do teatro e confesso que meu desejo era continuar viajando e mostrando pra todos vocês os encantos das artes dramáticas. Porém, todo ciclo tem seu fim e tenho a certeza que não será a nossa última aventura juntos.

 Continuarei com meus disfarces de mortal visitando os múltiplos espaços utilizados pelo drama, que encanta e alerta a sociedade. Neste tempo que ficaremos separados, estarei viajando por aí, buscando novas experiências para compartilhar com vocês.

Hoje, meus queridos navegadores, nosso barco desembarcará na contemporaneidade, um espaço que ainda está em construção e buscando uma definição (ou não).

Uma época encantadora, de uma gente que reflete a liberdade de criação, permitida graças às lutas travadas por pessoas que vieram antes delas. Uma época que entendeu que um trabalho nunca está realmente “finalizado” e o que importa, de verdade, é o percurso e tudo que se aprende nesse largo caminho que é a vida.




 A contemporaneidade é uma época muito marcada pelas antíteses. Oposições que apontam os embates sociais e que, de certa forma são refletidos nas artes teatrais. Se por um lado, temos Peter Brook que acredita que um espaço vazio e um ator já caracterizam o fazer teatral e observarmos, do outro lado, as produções da Broadway, com seus exageros, por exemplo, conseguimos enxergar a dicotômica e a ainda “em construção” dramaturgia da contemporaneidade.  


Segundo a tendência do “menos é mais”, o polonês Jerzy Grotowski desenvolve técnicas que cognomina de “Teatro Pobre”, que segundo o próprio dramaturgo, o fundamental no teatro é o trabalho com a plateia, não os cenários e os figurinos, iluminação etc.

Estas são apenas armadilhas, se elas podem ajudar a experiência teatral são desnecessárias ao significado central que o teatro pode gerar. O foco, então, está no principal ao teatro que é a atuação.




O pobre em seu teatro significa eliminar tudo que é desnecessário, deixando um ator ou atriz vulnerável e sem qualquer artifício. Na Polônia, seus espetáculos eram representados num espaço pequeno, com as paredes pintadas de preto, com atores apenas com vestimentas simples, muitas das vezes toda em preto.

 

 

Outro ponto super alto na dramaturgia contemporânea foi a fundação da cia The Living Theatre, que trouxe elementos da contracultura na sua composição. Fundado nos EUA na década de 60, o grupo de teatro de vanguarda foi montado inicialmente em Nova York pelos artistas Julian Beck e Judith Malina.

Pioneiro do movimento off-Broadway nos anos 60, conquistou também a Europa no início dos 70. Baseado em um teatro experimental, de cunho extremamente político, e tomado como exemplo de contestação, de ação não-violenta e de aspiração libertaria.

O grupo desembarcou aqui pelas bandas brasileiras no meio dos anos 70. Vieram pra cá a convite do Teatro Oficina, do Zé Celso Martinez Corrêa. O grupo via no Brasil fortes perspectivas de futuro, por ser um país aberto às modificações. O que eles não esperavam era chegar aqui no meio de uma revolução política e encontraram um país governado por militares, o que fez o grupo ter sérias decepções com a realidade brasileira.

 


  Uma das coisas que eles priorizavam em seu discurso era a questão da liberação sexual. Eles diziam que não se podia falar de uma política libertaria, sem se falar primeiro da liberação sexual. A fonte da repressão era exatamente a sexualidade, da qual derivava toda a repressão política.

 


 Já que conhecemos esse movimento off-Broadway “prafrentex”, seguiremos nessa mesma linha, porém avançaremos um pouco mais no tempo, até chegar In Yer-Face Theatre que com suas produções extremamente radicais tanto em termos das temáticas abordadas quanto de inovações formais e cênicas, chocou a cena do teatro na Inglaterra, que por via de regra era muito resistente às modificações da estrutura do teatro.

Para além da violência imediata, esse teatro desvelaria toda uma percepção de mundo experienciada pela geração que vivenciou, desde o nascimento, o pano de fundo sombrio do neoliberalismo, do individualismo e da ascendente globalização.

 

Confrontador, desagradável, não passível de ser ignorado, altamente provocador, esse teatro extremamente agressivo, doloroso e perturbador obriga o espectador a literalmente encarar assuntos pesadíssimos e situações extremas e invasivas. Ocorre que muitas vezes, a atuação envolvia tanta troca entre plateia e atores que quem encenava urinava, ou vomitava em quem assistia (escatológico e nojento, eu diria.)


 

Dentre as maiores e mais memoráveis formas de criação e performances teatrais, encontramos na Broadway, um estilo bem estadunidense de fazer arte.

Grandes públicos, super produções, altos investimentos e consequentemente lucros gigantescos fazem dos trinta e nove grandes teatros profissionais localizados em Manhattan, mais do que pontos turísticos, mas uma indústria do espetáculo, com lucros bilionários advindo das produções artísticas.

As peças encenadas neste espaço, transitam pelos mais variados temas e estilos. Entretanto, a crise econômica americana, o racismo, a AIDS, os processos de adaptação entre a cultura local e culturas estrangeiras, as constantes revisões históricas e os limites de autoria estão sempre em alta.

 

 Muitas produções feitas por lá, em decorrência da industrialização da cultura, foram remontadas em diversos países do mundo. Um super reflexo do capitalismo nas artes. O Brasil, por ser um país que consome muito a arte estadunidense, recebeu inúmeras peças anteriormente encenadas por lá, como Priscilla, Rainha do Deserto, Chicago, A Bela e a Fera, o Fantasma da Ópera, Les Misérables e o Rei Leão.

 Seguindo na linha de “romper com o tradicional”, o Brasil trouxe ao teatro contemporâneo super contribuições. O “Teatro Besteirol” nascido nos anos 80 em São Paulo, ganhou força mesmo foi no Rio de Janeiro. Desprovido de preconceitos, essa forma de fazer teatro  incorporou diversas referências da cultura brasileira para montar uma caricatura do comportamento cotidiano. O humor anárquico e o rompimento com o engajamento e a cultura dita erudita forma os pilares do movimento.

Miguel Falabella e Pedro Cardoso foram figuras de extrema importância para este movimento, que em poucos anos nos palcos, migrou para a televisão e até hoje ajuda a formar o humor crítico e ácido da comédia brasileira.


 

Sei que temos muito ainda para falar sobre os movimentos do teatro pelo mundo, por isso, peço que se tiverem contribuições ou sugestões, mandem por aqui para que a gente continue em constante troca.

 

Espero que tenham conseguido entendem um pouco desse universo que é a dramaturgia.

 

Um forte abraço e até a próxima aventura.

 

Dionni.

 















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