Do Baco ao Cristo: uma percurso doloroso do teatro até a Idade Média.

 Eaiii galereee

(sim, troquei o “a” pelo “e”... agora aprendi que devemos usar o gênero neutralismo, que nada mais é que um combate ao sexismo e ao generismo. A ideia é usar termos na linguagem que sejam genéricos, com o intuito de diminuir ou acabar com a discriminação resultante da impressão de que existem papéis sociais para os quais um gênero é mais adequado que outro)

Bomm, essa minha apresentação inicial foi uma forma de protesto.

Já que falaremos de Roma hoje, quis iniciar com uma discussão bem pertinente na atualidade: o sexismo. Tanto em Roma, quanto na Grécia e talvez até o início do século XVII no mundo inteiro, as mulheres eram proibidas de atuar ou participar das ações teatrais. Pesado isso, né??

Inclusive os papeis de personagens femininxs eras representados por homens. Este é um dos motivos para o uso da máscara nos Teatros Gregos ou Romanos. Além disso, a máscara trazia as características expressivas e físicas das personagens ali encenadas.

 


 

Inclusive, se quiserem saber mais sobre essas relações de gênero, tanto na Grécia, como em Roma, indico que ouçam a música do Chico Buarque, Mulheres de Atenas (podem ouvir enquanto fazer a leitura deste post, inclusive!)

 


 

Roma imitou muitas coisas da Grécia. E isso não foi só no Teatro, mas também na arquitetura, na música, nas vestimentas e também nas crenças e mitologias.

Eu, por exemplo, sou referido em Roma, mas com o outro nome. Lá me chamam de Baco.

Gosto desse nome, tem uma boa sonoridade e tem apenas duas sílabas, fica mais fácil de gravar. Tanto que muitos referem a divindade do vinho a Baco, creio que seja pela facilidade de memorização do nome. (mas um dia eu reivindicarei a fama pra mim!)

Tudo que eu fiz na Grécia, os romanos, ao se apropriar dos hábitos, aprofundaram as peripécias. Lá, inclusive, as festas em minha homenagem se chamavam “bacanais”. Que eram festas parecidas com as gregas: luxuriosas e desregradas. Na atualidade o termo bacanal pode soar meio pejorativo, mas particularmente, é um tipo de festa que ainda me atrai. (uHSAIUSiahS)

Os romanos negam a imitação, mas ela é muito óbvia. Na época já percebíamos, mas hoje, com todo esse distanciamento de tempo e com a tecnologia que temos, conseguimos perceber que os romanos são cópias dos gregos (com pequenas adaptações de percurso).

Não falarei de tudo para não alongar muito a conversa, então vamos para os pontos que julgo de maior importância, pontos de distanciamento do teatro feito na Grécia...

As encenações romanas não eram presas necessariamente ao espaço do palco. Haviam muitos atores que encenavam nas ruas, incluindo outros artistas como malabaristas e dançarinos, numa espécie de circo ambulante.

E por falar em “Circo”, uma das políticas romanas que guiavam as encenações era o “panem et circenses”, que e no seu contexto original, criticava a falta de informação do povo daquele lugar, que não tinha qualquer interesse em assuntos políticos, e só se preocupava com o alimento e o divertimento. O teatro para eles era diversão e distração.

Aqui no Brasil, um grupo de artistas, se apropria dessa jogada grega e monta um movimento chamado “Tropicalismo”, que em tempos de ditadura militar e censura dos meios de comunicação, usavam as artes para alertar o a população sobre a situação política do país. Inclusive Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Tom Zé e os Mutantes lançaram um disco, no ano de 1968, com o título “Tropicália ou Panis et circencis” que reúne 13 canções de alerta sobre os riscos que os brasileiros sofriam por não se importarem com a situação política do país.




Outro fato marcante sobre as encenações em Roma é que os atores levavam tão a sério o que estavam fazendo que chegavam a morrer em cena. Os espaços cênicos eram usados para as lutas entre gladiadores e encenações de batalhas navais.


Acredito que os caras ficavam muito empolgados com a história em encenavam que se entregavam totalmente ao momento e morriam ali mesmo.

 


 

Com o passar do tempo, a Europa começa um processo de cristianização, ou seja, o deus cristão toma conta do poder e muda completamente a visão social e muda inclusive as formas de fazer arte pelas bandas do velho mundo. Chamam essa época Idade Média.

Confesso que fiquei pessoalmente ofendido na época, pois o culto a mim foi substituído pelo culto a Cristo. Já não bastava terem mudado meu nome em Roma, agora me substituíram por completo. Deixei de ser deus e virei apenas uma história. 

 

O triunfo do deus cristão foi a ruína dos nossos deuses.

Inclusive as obras teatrais e os cantos construídos pelos poetas fazem referência e esse Deus (com letra maiúscula mesmo).

A igreja, a arte e a política estão muito próximas (sempre foram, né?), mas dessa vez, as encenações aconteciam literalmente dentro dos templos cristãos.  A igreja começa a investir no teatro, justamente por este ter um tom didático. (nós gregos também fazíamos um teatro didático, lembra?)

As práticas e festas católicas se tornam peças teatrais e os momentos da vida de Cristo passam a ser representados em larga escala pela Europa.



É muitooooo importante salientar que os atores eram os próprios membros do clero da Igreja. Inclusive, os papeis eram distribuídos hierarquicamente. Quanto maior o posto na igreja, melhor era o papel assumido pelo indivíduo clerical.

Mas é relevante dizer que apesar da igreja ter tomado conta das artes teatrais, isso não torna o teatro um lugar pobre. Apesar de, na sua maioria, ter um tema gerador (quase obrigatório que era o deus cristão) aconteceu um desenvolvimento grande na forma como se faz teatro.  

Ele se populariza, toma conta das ruas e se torna acessível ao grande público. A comédia (mesmo que não intencional) ganhou a preferência das pessoas, pois os embates entre o bem e o mal (Deus e o Diabo) se tornavam engraçados, pois normalmente os demônios eram encenados pelos bobos, ou “bufões”, que eram atores que não faziam parte do clero. (Os padres tinham medo de encenar os demônios, eu acho... tinham medo de se demonizarem...)



Esses atores tornavam um texto bíblico muito mais atrativo e divertido, ganhando a simpatia do público que assistia.

A França e a Inglaterra alavancam o teatro nessas épocas. O teatro francês inicia uma produção larga de gênero Farsa, “A Farsa do Advogado Pathelin” é uma das mais conhecidas, talvez seja a primeira comédia produzida pelas bandas de lá. O autor ainda é desconhecido (uma pena), mas essa peça já foi reproduzida e adaptada em muitas partes do mundo.



Pathelin critica e satiriza os costumes das duas mais fortes classes sociais da França do século XV, os comerciantes e os homens de leis. Os personagens são todos canalhas e Pathelin, o protagonista que mente descaradamente.

 

Indico que leiam a peça, é brilhante!

Hoje vou terminando por aqui. Espero que tenham conseguido compreender um pouco do teatro feito em Roma e compreendido sua modificações ao longo da Idade Média.

 

Na semana que vem conversaremos sobre o Teatro da Renascença.

Um forte abraço,


Dionni.





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