"Shakespearise-se" e você renascerá!

Ciao a tutti, va tutto bene?

Hoje, um desejo louco de falar italiano tomou conta de mim. Mas como só sei dizer, “Ciao a tutti, va tutto bene?”, vou restringir meu discurso italiano apenas a nossa saudação inicial.

Então, comecei fazendo a linha da italiana, justamente por que vamos falar um pouco do teatro no Renascimento. Teatro este que começou na Itália, lá pelo século XV, quando o Brasil ainda era totalmente habitado pelos nativos locais. (Confesso que amava me disfarçar de mortal e vir pros lados de cá, os indígenas sabiam como fazer festa).

Mas voltando ao assuntoooo, o post de hoje tentará trazer um pouco da minha reflexão sobre este período riquíssimo para o teatro mundial, não só pelo fato de se distanciar do que se fazia no teatro medieval – o tema central não é mais pautado pelas questões religiosas cristãs – mas existe uma abertura muito grande na exploração dos temas (o que faz desse momento muito instigante).


Além disso, há nesta fase, uma aposta numa construção teatral mais burlesca e cômica (inclusive, em muitas tragédias há uma pegada cômica) que torna os textos super atrativos ao publico da época e fez imortalizar muitooooossss escritores que estão presentes até hoje nas estantes de livros das casas do mundo inteiro.  

O tempo da Renascença (depois da Grécia Antiga, é claro)  é o meu período favorito. As artes deixam um pouco de lado o deus cristão e voltam o pensamento para a cultura clássica, mais precisamente as culturas Gregas e Romanas (que já falamos nos posts anteriores). Podemos dizer que é um movimento intermediário, tanto no tempo, quanto nas ideias. Carrega traços de um mundo antigo, resquícios das culturas medievais, porém abre espaço para a modernidade, pois rompe com alguns padrões impostos em temos anteriores.


Tive o prazer de dividir algumas barricas de vinho com muitos artistas dessa época. Leonardo da Vinci, Michelangelo e Rafael foram geniais nas pinturas e esculturas (mas o que ninguém sabe é que a maioria das ideias deles surgiram depois de algumas festinhas em minha companhia... inspiração enológica, eu diria...)


Na Itália, no final da Idade Média e início do Renascimento, surge a Commedia Dell'Arte (um movimento que até surge na Itália, mas que ganha força na França) que se baseava em espetáculos teatrais populares, apresentados nas ruas, com textos improvisados e personagens de destaques como Arlequim, Pierrot, Colombina, Polichinelo, Pantaleão e Briguela. 

Veremos que estes personagens se repetem nas peças e viram quase elementos obrigatórios, é bem interessante, masssssssssss isso é papo para um outro momento.

Bem, dei os créditos iniciais aos italianos, justamente porque o teatro renascentista nasceu por lá. Poréééém, nossa obra escolhida de hoje não é italiana...


Mas não precisa chorar... outra hora falaremos mais sobre o teatro da Itália e toda a magia revolucionária que era encenada por lá.

Hoje, nosso foco será um cara chamado William Shakespeare que conheci pelas minhas andanças pela Inglaterra. Um certo dia eu estava disfarçado em uma cidadezinha chamada Stratford. Era inverno e já estava quase noite. Na ocasião, bebíamos eu e alguns amigos em uma Taberna chamada Borar's Head, eu soube que o lugar era bem frequentado por artistas e intelectuais da época, então fui atrás de calor, distração e bom papo. Lá pelo quinto ou sexto copo de vinho,  me deparei com um garoto muito simpático, de humor ácido e muito perspicaz nas afirmações. Suas feições eram delicadas, um rosto fino com olhos que lembravam o da Rainha Elizabeth I (que era uma rainha muito forte e governou a Inglaterra com punhos muito firmes).


O garoto se intitulava poeta e me interessei de pronto. Quando me aproximei e iniciei o papo, ele me apresentou uma das maiores delicias que já provei... um vinho chamado Xerez. Depois que bebemos muito e festejamos, ele contou que tinha um desejo gigantesco de ir pra corte e escrever sobre a vida dos reis. Naquele dia fizemos um acordo. Eu daria a ele a oportunidade de escrever para os reis da Inglaterra e ele ficaria famoso em todo o mundo, mas que ele teria que me dar algo em troca... (não pensem bobagem. Eu nunca faço acordo sexuais quando bebo, isso não é justo com nenhuma das partes...)


Então... o  acordo que fizemos era que se ele conseguisse tudo aquilo que desejaria, teria que prestar homenagem àquele vinho em sete obras escritas por ele.

Alguns anos se passaram e achei que o Will (eu fiquei super íntimo que comecei a chama-lo assim) havia esquecido do nosso acordo, mas relendo suas obras, vi que o homem tinha palavra. O meu amigo e autor de Hamlet cita o nosso vinho, o Xerez, em sete de suas obras - A Megera Indomada, Henrique IV, Henrique VI, As Alegres Comadres de Windsor, Noite de Reis e A Tempestade. Além disso, o vinho está presente em quase todas as obras do cara. A bebida é sempre ponto de mudança nas obras(talvez pela convivência que tivemos). Na obra que falarei pra vocês hoje, o vinho elemento usado para vingança e é caminho para a morte, por exemplo. Mas não vou dar spoiler...


Por isso que escolhi uma das obras dele para discutirmos hoje. Não só pela genialidade do cara, mas pela atemporalidade das suas obras, Shakespeare merece figurar aqui como a primeira obra do renascimento a ser discutida . (Dando uns spoilers... nas próximas semanas, falarei de outras duas peças, mas são francesas)  

Hamlet, talvez seja a obra mais conhecida do William, mas ele se baseou numa história que eu mesmo contei pra ele, que eu ouvi do cronista Saxo Grammaticus, se chamava “a lenda de Amleto”. Fiquei muito feliz quando vi a peça pela primeira vez e identifiquei de cara a influência da nossa conversa naquela noite fria regada a vinho.  

A tragédia em questão conta a história de um príncipe (o Hamlet) que desconfia ardentemente da traição do tio (o Cláudio) que assumiu o trono do seu pai (o rei Hamlet Pai depois da morte duvidosa do homem) e casou com a sua mãe (a rainha Gertrude, que era bemmmm safadinha e casou com o cunhado poucos meses depois da morte do marido, o rei e pai do Hamelt Júnior [o Jr é por minha conta]).


A peça inicia com um amigo de Hamlet, Horácio,  tendo uma visão do fantasma do Rei Hamlet. O amigo corre até o castelo e conta tuuuuudo pro príncipe. Na noite seguinte, o filho vai ao encontro do fantasma do pai que conta pra ele que o Rei Cláudio havia o envenenado e covardemente assassinado para roubar o seu trono. (Lembra da história do pai do Jasão? Então, bemmmmmm semelhante)


Hamlet, enfurecido, quer vingar a morte do pai e revelar o mau-caratismo do tio. Nisso, Hamlet finge loucura para ganhar tempo para montar um plano para desmascarar o Rei Cláudio. Ao longo da peça desconfiamos da loucura do moço. Se ela é fingimento ou se é real. Creio ser impossível desvendar esse caso, mas pelos indícios deixados pela personagem, o fingimento o afetou a tal ponto que talvez ele tenha tido alguns desvios da racionalidade sem nem mesmo ter percebido.

Como toda boa história, existe um romance existente entre o príncipe da Dinamarca e Ofélia (irmã de Laertes e filha de Polônio, que por sua vez, era o braço direito do tio de Hamlet). Na verdade, quem fica louuuuca de verdade é a Ofélia que é proibida pelo pai de se envolver com Hamlet pelo fato das diferenças socias que permeava o casalzinho. A repressão do amor é algo muito sacrificante e é óbvio que a moça ia surtar, uma hora ou outra. E talvez o surto real de loucura de Hamlet tenha acontecido em função da não concretização desse amor... mas isso é só uma hipótese minha.

Inclusive, Cláudio pede ao fiel escudeiro, Polônio, que investigue as causas da loucura do nosso herói e é ai que a história começa a ficar quente. O plano de Hamlet começa a tomar novas formas e ele chama um grupo de Teatro para encenar a morte de um rei que é morto pelo irmão, para testar o tio. Ao ver a cena de traição sendo encenada no castelo, o rei Cláudio se retira imediatamente do local, fazendo com que Hamlet acredite na história do fantasma do pai e dê seguimento ao seu plano de vingança.

Hamlet traça um plano de matar o tio e desiste, pois o rei estava rezando. Momentos depois, vai até o quarto da mãe e acusa a rainha de adultera, tem uma crise e surta completamente. Nisso, ele tem novamente a visão do fantasma do pai, mas a mãe não enxerga, o que deixa um ar de desconfiança sobre a insanidade do príncipe. Antes de terminar a conversa com a mãe, Hamlet escuta barulhos atrás da cortina, pensa estar sendo espionado por Cláudio e sem hesitar, pega seu punhal e mata o homem. Porééééééééééé, pasmem!

Não era o tio que estava ali, mas Polônio (o pai da Ofélia e seu talvez seu provável futuro sogro). Frente ao ato terrível, o rei Cláudio se vê num conflito interno sobre qual atitude tomar. Se mata o príncipe ou se o exila. O rei sabia que Hamlet era muito amado pela população e com medo de uma revolta, manda o sobrinho para a Inglaterra.

No caminho, o navio dele é atacado por piratas e como ele portava bastante dinheiro, pagou para não morrer e voltou para a Dinamarca.

Nesse tempo que Hamlet estava fora, Ofélia descobre toda a verdade sobre a morte do pai. Laertes, o irmão, retorna da França (onde fica quase toda a peça) buscando vingar a morte do pai. Ofélia não lida muito bem com a situação e fica completamente louca. O texto sugere que Ofélia tenha cometido suicídio.


 

Com o retorno de Hamlet a Dinamarca, o caos se aloja. Laertes quer vingar a morte do pai e da irmã e pretende matar o príncipe. O rei Cláudio, tentando manter as aparências de civilidade, propõe um duelo de esgrima. Porééééééémm, pasmem!

Vendo o sobrinho completamente louco, achou que ele não conseguiria ganhar de Laertes, mas mesmo assim arquitetou duas formas de matá-lo: primeiro colocou veneno na ponta da espada de Laerte, se ferisse Hamlet, este morreria em pouco tempo. Depois, colocou veneno na taça que Hamlet beberia para brindar, caso vencesse.

No meio da batalha, Gertrudes acaba bebendo um pouco da taça com veneno que estava separada para Hamlet e, logo depois, Laerte consegue ferir Hamlet. Contudo, segundos depois há uma troca de espadas na luta e Hamlet fere Laerte com a espada envenenada.

Quando todos os afetados começam a desfalecer, Hamlet percebe a emboscada e obriga Cláudio a beber o restante de veneno na taça. Assim, como uma típica tragédia, todos os personagens principais terminam mortos!


 

E ai, o que acharam? Mais uma história pesada, né?

Então... na semana que vem, pra mudar um pouco os ares, falaremos do teatro na França. Conversaremos um pouco sobre minhas andanças por lá e do meu carinho especial pela comédia.

Mas antes de terminarmos, tenho mais uma observação a fazer...

Lembra que comente que o William havia deixado sua marca eterna nas artes mundiais? 

Por curiosidade, mais de 40 filmes contemporâneos foram inspirados na obra dele, dentre eles, o Rei Leão da Disney, 10 coisas que eu odeio em você, Meu namorado é um Zumbi e muitos outros.



Encontrei um site bacana e recomendo leitura. Está neste link, lá vocês encontrarão a lista completa dos filmes inspirados nas obras do Will. 

Hoje escrevi muito, pois era um assunto que me interessava muito. Prometo ser menos falastrão e mais objetivo nos próximos postsss.


Um super abraço e até semana que vem.

 

Dionnii :P






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