Oscar Wilde e suas comédias para pessoas sérias
Helllloooo peopleeeeee,
Hoje retornaremos à Inglaterra, um país que, assim como a
França e a Itália, incentivou muito as artes cênicas como um todo. Neste nosso
passeio semanal, avançaremos um pouco no tempo e chegaremos a uma nova
Inglaterra (uma diferente daquela da Era Elisabetana).
Desembarcaremos na Era Vitoriana, que foi uma época de paz e
relativa prosperidade para o povo britânico, também conhecido como Pax
Britannica, com os lucros adquiridos a partir da expansão e domínio do Império
Britânico no exterior. (que a gente sabe que foi explorando nações menos prestigiadas
e roubando bens valiosos dos povos
americanos e africanos).
A coroa inglesa dominou e explorou mais de 15 países africanos
(África do Sul, Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia,
Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia, Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia,
Seicheles e Zimbábue) o que fez os países britânicos crescerem e se desenvolverem.
A utilização de mão de obra escrava e a retirada desses bens, fez acontecer o
auge e a consolidação da Revolução Industrial e, consequentemente o surgimento
de novas invenções.
Então, estamos frente a uma governança bem dicotômica: evoluída
em muitos aspectos, mas extremamente primitiva no que tange à exploração de mão
de obra e de matéria prima de povos relativamente indefesos.
Além disso, nessa época, por ser muito religiosa, e defender
ferrenhamente os dogmas da igreja. A rainha perseguiu os que não seguiam aos
valores morais e críticos das ideias vitorianas (homossexuais e demais opositores
como escritores e outros artistas da época).
Apesar das inúmeras atrocidades feitas naquele país, a
graciosa Vitória tinha muitos atributos a seu favor. Creio que depois dos inúmeros
conflitos e explorações, um grande ato da sua liderança foi a Abolição da
Escravidão no Império Britânico. Além disso, a rainha foi responsável por reduzir
a jornada de trabalho dos trabalhadores da indústria têxtil para dez horas (muitos
trabalhavam mais de 15h) e instalou o “Third Reform Act”- direito ao voto de
todos os trabalhadores.
A rainha tinha outro ponto a seu favor... ela era extremamente
erudita, estudou muitas línguas, aprendeu diversos idiomas e, o melhor, ela gostava
muito de teatro e tinha uma certa predileção pelas comédias e pelos melodramas
e é por isso que hoje conversaremos sobre uma peça cômica escrita na era
vitoriana.
A comédia que veremos hoje foi escrita por um cara genial. Que
foi amado foi ser único e odiado por ser diferente. Oscar Wilde era a representação
personificada do luxo e da riqueza da Era Vitoriana. Uma obra de arte ambulante,
trazia nos textos que escrevia, uma crítica inteligente sobre os valores morais
da época, além de humor sofisticado e instigante.
The Importance of Being Earnest foi encenada a primeira vez
no ano de 1895 em Londres. A peça marcou o ápice da carreira de Wilde e anunciou
também a sua ruína. Nesta ocasião, sua homossexualidade foi revelada, através
do pai de seu amante. Esse fato leva o escritor aos tribunais e marca a sua
condenação e cárcere por “indecência grosseira/nojenta” e sentenciado a dois
anos de trabalhos forçados.
A obra em questão faz um jogo cômico desde o seu título: The
Importance of Being Earnest, se traduzido para o português, significa “A importância
de ser sério(ou sincero)”, que segue com um subtítulo: “a Trivial Comedy for
Serious People” que reforça a ironia que o autor queria dar ao texto que
apresentou no final do século XIX.
O título vai bem ao encontro da história que quer contar:
dois amigos que fingem ser Earnest para viver vidas diferentes das suas. Ambos
com suas razões e motivações individuais, dão andamento a uma narrativa cheia
de enganações e mentiras que envolvem interesses pessoais como o casamento e a
ascensão social e econômica através das relações.

Laços de família e amizade unem estes dois casais, Algernon
Moncrieff e Cecily Cardew, e John Worthing e Gwendolen Fairfax, se envolvem
numa trama muito engraçada. Cecily é
protegida de John e Gwendolen é a prima de Algernon, sendo que os dois homens
são grandes amigos.
A trama inicia com a criação de homem inexistente chamado
Ernest Worthing que é o alter ego de Jack Worthing, que usa esse nome sempre
que vai à cidade para poder agir de maneira imprudente sem se preocupar com as
consequências. Jack está apaixonado por Gwendolyn Fairfax, que se casaria com
ele se não fosse a desaprovação de sua mãe, a formidável Lady Bracknell.
A principal objeção de Lady Bracknell a Jack é simples - ele
não sabe de sua ascendência. Quando bebê, ele foi encontrado abandonado(dentro
de uma bolsa em uma estação ferroviária) por um homem gentil que o criou até a
idade adulta e deixou-lhe uma fortuna, uma propriedade e uma bela jovem
protegida - Cecily Cardew.
Quando o amigo da cidade de Jack, Algernon Moncrieff, fica sabendo da existência de Cecily, ele tem um desejo poderoso de conhecer a garota. Então, pegando emprestado o nome de Jack, Alge se traveste de Ernest Worthing e aparece na propriedade de Jack, fingindo ser seu irmão mais novo que estava fora da cidade. Cecily fica maravilhada e ela e Algernon se apaixonam. É quando Jack chega, seguido logo em seguida por Gwendolyn e Lady Bracknell.
Identidades falsas
são expostas e identidades verdadeiras são reveladas em uma série de eventos,
conforme os personagens entram e saem de ser Earnest.
Mas o que a torna uma leitura deliciosa é a maneira como
Oscar Wilde jogou com epigramas na peça. Ao mesmo tempo que rimos, conseguimos
entrar em profundas reflexões que não são apenas sobre a sociedade vitoriana,
mas sobre elementos das relações da contemporaneidade.
Os personagens são muito bem construídos por Wilde. Além dos
dois casais que guiam a trama, temos a presença de outras personagens bem
importantes, como a Lady Bracknell que carrega a consigo a denúncia da hipocrisia.
Um símbolo verdadeiro da seriedade vitoriana e da infelicidade que isso traz
como resultado. Apesar de sua posição atual, Lady Bracknell nem sempre foi
membro da classe alta, ela era uma alpinista social decidida a se casar com
alguém da aristocracia. Como ex-membro da classe baixa, ela representa a
retidão dos ex-excluídos. Por ser agora Lady Bracknell, ela tem opiniões sobre
sociedade, casamento, religião, dinheiro, doença, morte e respeitabilidade. Ela
é outra das invenções de Wilde para apresentar sua sátira sobre esses assuntos.
Todas essas personagens fazem a gente ver através do verniz
da sociedade, fazem uma escavação nos maneirismos vitorianos completos com o
absurdo emaranhado na chamada sofisticação. Wilde também consegue trazer toda a
questão das moralidades confusas na peça - é provavelmente a razão pela qual
esta peça é uma leitura maravilhosa.
É tão contemporâneo quanto antigo, vale muito a pena
conferir.
Semana que vem daremos outro salto no tempo e falaremos
sobre o Tetro Moderno.
Espero que estejam curtindo essa nossa viagem pelo Teatro
aqui pelo ocidente.
Forte abraço e até semana que vem!
Dionni.
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