Uma viagem pela farsa de Molière

 Salut, mes amis!

Comment ça va?

Aujourd'hui, nous voyagerons en France!

 


A viagem da semana passada foi bem longa.

Fomos da Itália à Inglaterra.

Contei pra vocês a minha história com o meu amigo Will Shak’s e todo o contexto do teatro do Renascimento e, em especial, o Elisabetano e as muitas interferências que as artes feitas por lá exerceram no mundo inteiro.

 Hoje chegamos na França... um lugar riquíssimo em arte e cultura e que deu de presente ao mundo, além de vinhos maravilhosos, inúmeras produções teatrais de qualidade que modificaram a forma de ver e fazer as artes como um todo.

Escolhi duas obras super bacanas, uma peça de comédia (pra aliviar o drama pesado que vimos na semana passada) e um filme dramático (que é super interessante e com uma trama genial).

A minha ligação com essas obras nasceu em uma das minhas visitas à corte francesa do Rei Luis XIV. Amava meus disfarces daquela época. Passei muitos anos por lá.

O rei em questão era um homem muito farto e valorizava muito a cultura, fazendo investimento altos na literatura e na dramaturgia. Além disso, fazia grandes festas, com fartura de bebidas, comidas e atuações. O teatro, nessa época, tomou conta das ruas de Paris e o rei estava sempre a procura de bons atores e escritores para encher a corte com peças que iam da releitura de clássicos até as comédias que eram encenadas nas ruas.




Em uma das minhas andanças pelas ruas de Paris, avistei um grupo de teatro que encenava uma comédia num palco improvisado. Um ator, muito crítico e ao mesmo tempo carregado de um humor ganhou toda a minha atenção. O nome dele era Jean-Baptiste.

Depois que a peça terminou, levei alguns litros de vinho e alguns pães para os atores. Meu intuito era conhecer melhor aquele promissor grupo, além de trocar uma ideia com o tal Jean-Baptiste.


 

No início, ele não me deu muito papo, mas depois que escutou que eu estava na corte e era próximo do rei, a coisa mudou. Sei que a nossa amizade nasceu por interesse, mas confesso que dei boas risadas com aquele cara. Descobri que um tempo depois ele ficou super íntimo do rei, a ponto de ser sustentado por ele, mas desta vez, não exerci nenhuma influência. Ele caiu nas graças do rei pela comédia que escrevia, que tinha uma ligação forte com a Commedia Dell’Arte, (que inclusive foi a primeira grande manifestação artística que formalmente permitia mulheres em cena, isso foi uma virada genial pro teatro como um todo). Mas é interessante dizer aqui, que nos nosso papo, Molière, como gostava de ser tratado, afirmou suas predileções à tragédia, apesar de ter ficado conhecido pelas farsas que escrevia.

Apesar de ter conhecido e convivido com Molière, não cheguei a assisti-lo encenando a minha peça favorita escrita por ele, que se chama “O doente imaginário” ou “Le Malade Imaginaire”, o título original da peça, mas graças as tecnologias digitais, vocês podem assistir a peça em casa, vou deixar aqui o link:


A peça é genial!

Ela é protagonizada pelo hipocondríaco Argan, um velho rico e carente (típico personagem encontrado nas peças de Molière) que está no seu segundo casamento, com uma mulher muitooooo mais nova que ele e que além de tudo, era super interesseira, que se chamava Belinha.

Argan, por achar que estava sempre com alguma enfermidade e a beira da morte, recebia os cuidados de uma empregada (que é, na minha opinião, a melhor personagem da peça). Toninha era muito debochada e inteligente e suas aparições na peça dão andamento ao enredo e enchem o texto de humor dos bons.


Além disso, Argan tem duas filhas, Luizinha, a mais nova, e Angélica que por sua vez é apaixonada por Cleanto, mas foi prometida pelo pai ao filho do Dr. Boamorte, o Tomáz, que também era aspirante a médico.

Argan queria muito que a filha casasse com um médico para economizar dinheiro com os tratamentos caros que fazia. E obviamente para ter sempre um profissional de medicina a sua disposição.

Na verdade, Argan não tinha nenhuma doença, entretanto era muito enganado pelos médicos que o atendiam, que se aproveitavam da hipocondria do homem para se beneficiarem financeiramente.

Essa é uma das grandes críticas feitas por Molière nessa peça. O autor satiriza a precária ciência do seu tempo, a medicina. Fazendo uma crítica acirrada à relação médico-paciente, digna das relações marcadas pela frieza e pelo descaso. (Olha... essa obra foi encenada no século XVII e pouca coisa mudou dessa relação de lá pra cá).

A peça gira em torno das doenças imaginárias de Argan. Enquanto Toninha e a filha Angélica tentam abrir os olhos do doente, a esposa incentiva os gastos com a medicina, esperando que o homem morra depressa para que ela fique com os bens.



Toninha e o irmão de Argan, Beraldo, tentam "curar" o velho de sua fixação em remédios e médicos. Juntos, eles o convencem a se fingir de morto para descobrir quem é realmente leal e gosta dele. É assim, que eles desmascaram a segunda esposa de Argan está atrás apenas de seu dinheiro, enquanto que sua filha realmente o ama.

Após a "ressurreição" do supostamente morto Argan, Angélica está livre para se casar com quem quer que escolhesse... e é obvio que escolhe Cleanto.

 Muitas pessoas contam que Molière morreu durante uma das apresentações dessa peça. Dizem que ele estava encenando o próprio Argan, teve uma dor e acabou morrendo na casa dele em Paris.


Essa cena (claro que superrrr adaptada e envolta de licenças poéticas) foi retratada na obra que veremos na sequência. No próximo post, falarei sobre o filme “Marquise” em que Molière é uma das personagens essenciais da trama. Vale a pena conferir!

 Não esqueçam de assistir a peça, para que a gente possa trocar uma ideia!

Forte abraço e até a próxima!

 

Dionni.










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