Submissão, prostituição e efemeridade: o começo da atuação das mulheres no teatro do século XVII
Genteeeesss,
Seguindo na linha da França, hoje falaremos um pouco sobre o
filme “Marquise” que é uma produção francesa muito conhecida no mundo todo, justamente
por falar de um momento super significativo da história do teatro, além de trazer
para as telonas do cinema uma visão inteligente e fascinante da sociedade
francesa do século XVII.
Marquise conta, com liberdades poéticas próprias desse tipo
de arte, a história de Marquise-Thérèse de Gorla, também conhecida como
Mademoiselle Du Parc, que era uma atriz e bailarina francesa.
Ela era uma das estrelas da trupe de Molière e também era
conhecida por seus casos de amor com muitas pessoas famosas, que incluem o próprio
Molière, Racine e até o rei Luis XIV.
Na época, o teatro francês era regido pelas comédias de Molière
e pelas tragédias de Racine. Nesse mundo de rivalidades, a dançarina Marquise, interpretada
pela atriz Sophie Marceau, é descoberta pelo ator da Companhia de Moliére,
Gros-René du Parc, dançando seminua em uma feira no interior da França.
Ele se apaixona por
seus dotes físicos e artísticos. O pai dela era uma espécie de “cafetão”, que
organizava, depois das apresentações da moça, uma fila de homens para desfrutar
dos dotes da dançarina.
Porém, Gros-René fura a fila e vê (na minha opinião, uma das cenas mais fortes do filme) a atriz sendo estuprada por um dos homens que a assistiam. De imediato, o ator da trupe de Molière, faz um convite de casamento a ela. René paga ao pai de Marquise uma quantia significativa de dinheiro para que o casamento acontecesse e a leva com o grupo para Paris, onde as vidas de todos a volta da atriz começam a tomar novos caminhos.
Na corte, a companhia de Molière, que enfrentava muitas dificuldades,
inicia um processo de modificações das suas obras. A igreja não aceita muito as
propostas de dramaturgo, por julgar essas peças como amorais ou de baixo valor
para aquela sociedade.
O filme mostra a estrutura dos poderes, sobretudo o da igreja, interferindo nas produções, e o teatro sempre tentando burlar, ou adaptar-se, de algum modo, para buscar meios de permanecer e, quem sabe, depois ter espaço para questionar as estruturas vigentes.
A queda de Molière é mostrada no filme, em comparação a ascensão
de Racine. Os gêneros comédia e tragédia
disputam o espaço na corte e obviamente, em função da dominância e soberania da
Igreja, a Tragédia, por não fazer críticas sociais tão fortes e obvias como a comédia,
acaba vencendo a queda de braço.
Marquise, leva grande vantagem nesse momento, já que não
conseguia ser atriz nas peças de Moliére, este só lhe abria espaço para que ela
atuasse como dançarina, então a atriz uniu-se a companhia de Racine, na vida e na
arte, e atingiu a glória ao encenar Antígona, papel escrito para ela pelo
apaixonado amante.
Ela faz muito sucesso no papel e, paralelamente a isso, o
filme revela os pontos negativos em ser uma atriz no século XVII.
Submissão, prostituição, efemeridade e traição. Quando ela se percebe que a carreira está alavancada, a vida emocional é a que desmorona. A atriz tinha a certeza que na condição de mulher, ela teve que se submeter a inúmeras coisas para atingir aquele lugar de destaque. Esse comportamento é encontrado em uma cena em que Marquise está com uma das empregadas no camarim e diz a ela que “encenar é morrer todos os dias”.
Todo esse sentimento, misturado com a certeza da efemeridade
daquele momento, Marquise fica doente e não consegue encenar Antígona por alguns
dias.
A empregada, que acompanhava os ensaios da atriz, a substituiu.
Vendo que a vida de uma pessoa como ela na corte era breve e que tudo que ela
havia feito não tinham valido a pena, a atriz desiste da própria vida.
A morte, inevitável em uma tragédia, acontece no palco
Marquise. Envenenada, ela enxerga que a vida e a arte são elementos que não se
dissociam.
Indico que vejam o filme, vale muitoooo!
Semana que vem falaremos sobre o Teatro Vitoriano, num
retorno a Inglaterra.
Obviooooo que para acalmar os ânimos, depois de mais uma
tragédia, falaremos sobre uma comédia.
Espero que estejam curtindo a viagem pelo Teatro Ocidental...
então, até a próxima
semana!
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