Submissão, prostituição e efemeridade: o começo da atuação das mulheres no teatro do século XVII

 

Genteeeesss,

Seguindo na linha da França, hoje falaremos um pouco sobre o filme “Marquise” que é uma produção francesa muito conhecida no mundo todo, justamente por falar de um momento super significativo da história do teatro, além de trazer para as telonas do cinema uma visão inteligente e fascinante da sociedade francesa do século XVII.

Marquise conta, com liberdades poéticas próprias desse tipo de arte, a história de Marquise-Thérèse de Gorla, também conhecida como Mademoiselle Du Parc, que era uma atriz e bailarina francesa.

Ela era uma das estrelas da trupe de Molière e também era conhecida por seus casos de amor com muitas pessoas famosas, que incluem o próprio Molière, Racine e até o rei Luis XIV.




O filme é de 1997 e fala basicamente sobre a gloriosa dançarina e atriz que sai da obscuridade para conquistar os corações de alguns dos cidadãos mais proeminentes da França.

Na época, o teatro francês era regido pelas comédias de Molière e pelas tragédias de Racine. Nesse mundo de rivalidades, a dançarina Marquise, interpretada pela atriz Sophie Marceau, é descoberta pelo ator da Companhia de Moliére, Gros-René du Parc, dançando seminua em uma feira no interior da França.

 Ele se apaixona por seus dotes físicos e artísticos. O pai dela era uma espécie de “cafetão”, que organizava, depois das apresentações da moça, uma fila de homens para desfrutar dos dotes da dançarina.

 


Porém, Gros-René fura a fila e vê (na minha opinião, uma das cenas mais fortes do filme) a atriz sendo estuprada por um dos homens que a assistiam. De imediato, o ator da trupe de Molière, faz um convite de casamento a ela. René paga ao pai de Marquise uma quantia significativa de dinheiro para que o casamento acontecesse e  a leva com o grupo para Paris, onde as vidas de todos a volta da atriz começam a tomar novos caminhos.

Na corte, a companhia de Molière, que enfrentava muitas dificuldades, inicia um processo de modificações das suas obras. A igreja não aceita muito as propostas de dramaturgo, por julgar essas peças como amorais ou de baixo valor para aquela sociedade.


 O filme mostra a estrutura dos poderes, sobretudo o da igreja, interferindo nas produções, e o teatro sempre tentando burlar, ou adaptar-se, de algum modo, para buscar meios de permanecer e, quem sabe, depois ter espaço para questionar as estruturas vigentes.

A queda de Molière é mostrada no filme, em comparação a ascensão de Racine.  Os gêneros comédia e tragédia disputam o espaço na corte e obviamente, em função da dominância e soberania da Igreja, a Tragédia, por não fazer críticas sociais tão fortes e obvias como a comédia, acaba vencendo a queda de braço.

Marquise, leva grande vantagem nesse momento, já que não conseguia ser atriz nas peças de Moliére, este só lhe abria espaço para que ela atuasse como dançarina, então a atriz  uniu-se a companhia de Racine, na vida e na arte, e atingiu a glória ao encenar Antígona, papel escrito para ela pelo apaixonado amante.

Ela faz muito sucesso no papel e, paralelamente a isso, o filme revela os pontos negativos em ser uma atriz no século XVII.


Submissão, prostituição, efemeridade e traição. Quando ela se percebe que a carreira está alavancada, a vida emocional é a que desmorona. A atriz tinha a certeza que na condição de mulher, ela teve que se submeter a inúmeras coisas para atingir aquele lugar de destaque. Esse comportamento é encontrado em uma cena em que Marquise está com uma das empregadas no camarim e diz a ela que “encenar é morrer todos os dias”.

Todo esse sentimento, misturado com a certeza da efemeridade daquele momento, Marquise fica doente e não consegue encenar Antígona por alguns dias.

A empregada, que acompanhava os ensaios da atriz, a substituiu. Vendo que a vida de uma pessoa como ela na corte era breve e que tudo que ela havia feito não tinham valido a pena, a atriz desiste da própria vida.

A morte, inevitável em uma tragédia, acontece no palco Marquise. Envenenada, ela enxerga que a vida e a arte são elementos que não se dissociam.

 


Indico que vejam o filme, vale muitoooo!

 

Semana que vem falaremos sobre o Teatro Vitoriano, num retorno a Inglaterra.

Obviooooo que para acalmar os ânimos, depois de mais uma tragédia, falaremos sobre uma comédia.

 

Espero que estejam curtindo a viagem pelo Teatro Ocidental...

 então, até a próxima semana!

 Dionni.



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