Nós todos esperamos Godot.
Eaiiii queridos seguidores,
Nossa viagem está quase chegando ao fim (ou melhor, chegando
no presente)...
Tenho muita coisa pra contar pra vocês ainda, pois quanto
mais perto do presente, mais descobertas sabemos sobre o teatro e mais pessoas
(em diversas partes desse mundo) iniciaram trabalhos muito variados que fica difícil
a gente enquadrar este tipo de arte em restritos perfis classificatórios.
Hoje, nosso barco chega na Modernidade. Falaremos sobre muitas
celebridades teatrais, mas nosso desembarque final é na Russia.
E...a palavra moderno é super instigante, não é mesmo?
Ampla e carregada de significações, a Modernidade chega para
a vida em sociedade e também é refletida e vivenciada nas artes. O Teatro
Moderno, por ter adquirido uma liberdade maior que os teatros anteriores, consegue
trabalhar com aprofundamentos humanos que antes não era muito possível.
Além disso, a teoria e a crítica acerca do fazer teatral
cresceu muito neste período, fazendo com que muitos teatrólogos , além de
escrever suas peças, construíram manuais de atuação e procedimentos de ensaio,
como é o caso do russo Constatin Stanislavsk que reflete sobre as melhores
técnicas de treinamento para a preparação de atores. As técnicas introduzidas
por ele, lá no início do século XX, são utilizadas até hoje em produções
teatrais e também cinematográficas. Dizem que muitos produtores e diretores hollywoodianos
utilizam ainda as práticas sugeridas pelo Constatin. Além disso, o cara era um
dos maiores apreciadores de vinho. Tenho certeza absoluta que toda a inspiração
dele veio do néctar dos deuses da uva, então, um brinde, Stanniiiii!!
Outra figura que acrescentou muito a modernidade do teatro foi o, também Russo, Anton Tchekhov. Ele trouxe diversas inovações na construção das suas obras, que além das peças teatrais, incluem contos e outras narrativas dramáticas.
Na verdade, pelo que andei escutando por aí, ele era médico
por profissão, mas era amante da literatura e com esta, sua relação foi mais
duradoura e consistente. Como médico não teve tanto reconhecimento quanto teve
como contista. É considerado até hoje um dos maiores contistas do mundo de
todos os tempos (o cara é bom mesmo... e era bonito e estiloso, confere a gravatinha do moço ai!)
Ele escreveu diversos clássicos, entre eles “Tio Vânia”, “As três irmãs”, “O jardim das cerejeiras e “A Gaivota”. Todas as obras têm reconhecimento até os dias de hoje, entretanto, a última delas, na sua primeira estreia, no ano de 1896 não teve muito sucesso, mas 1998 quando foi reencenada pelo Satani e pela companhia de Teatro de Arte de Moscou, foi aclamada e obteve muito sucesso. A criatividade e ousadia de Tchekhov aliada ao talento e a perícia de Constatin Stanislavsk, realmente, não tinha como dar errado.
Beckett foi um dos escritores que compôs o seleto grupo do “Teatro
do Absurdo”, designação criada em 1961 pelo crítico húngaro Martin Esslin, tentando
sintetizar uma definição que agrupasse as obras de dramaturgos de diversos
países, as quais, apesar de serem completamente diferentes em suas formas,
tinham como ponto central o tratamento inusitado de aspectos inesperados da
vida humana. Essas obras estavam focadas em questões existencialistas e tentavam
expressar o que acontece quando a existência humana é tida como sem sentido ou
sem propósito, resultando na dissolução das comunicações.
Nesse contexto, chegamos a uma das minhas peças preferidas
do teatro moderno (confesso que já assisti milhares de montagens e toda vez que
assisto faço uma nova reflexão), que é Esperando Godot...
Sim, pelo título, já dá pra supor que é uma peça que fala
sobre espera.
E quem curte esperar?
Eu, particularmente, morro de imediatismo, não conseguiria
ficar um dia na pele de Estragon e Vladmir.
Esperando Godot é uma peça que praticamente não tem nenhuma
ação e nenhum sentido aparente, mas sua importância está justamente no que mais
nos incomoda, a espera.
Beckett desenha cenicamente Estragon e Vladimir, dois
vagabundos que esperam, em uma estrada próximos de uma árvore decrépita, pela
chegada de um homem que não conhecem chamado Godot. Esse tal de Godot é o senso
de propósito que aguardam para saírem da inércia; mas enquanto ele não chega,
os dois precisam lidar com o tédio da espera e as questões existenciais que ela
gera.
Nos transcorrer da peça, aparecem muitas outras personagens
que auxiliam as principais no seu processo de reflexão constante sobre o ato de
esperar.
Chegando ao final da peça, Vladimir e Estragon, sozinhos
novamente, chegam próximos da árvore e sugerem que ambos se enforquem. Como não
possuem corda, Estragon sugere que usem o seu cinto, mas este acaba se
rompendo, impedindo o suicídio e deixando o personagem com as calças no chão.
E assim, com mais um cair da noite, a peça acaba com as
últimas palavras dos dois:
Vladimir: Amanhã nos enforcamos. (Pausa) A não ser que Godot
venha.
Estragon: E se vier?
Vladimir: Estaremos salvos.
…
Estragon: Então, vamos?
Vladimir: Sim, vamos lá.
(Eles não se mexem)
A cortina se fecha
Muitas interpretações surgiram para entender quem era esse
tal de Godot, alguns sugerem que seja a morte, outros dizem que é Deus, mas
nada sabemos ao certo. Talvez Godot seja uma representação da nossa própria
vida e dos nossos próprios anseios na incansável rotina da espera.
Acho que a nossa maior frustração, que resume bem a função
da peça na atualidade é a espera por uma vacina.
Bem, na expectativa de uma vacina para que nossas “saidinhas”
deixem de ser virtuais e voltem a ser reais.
Na próxima semana, falaremos sobre o (amplo) teatro
contemporâneo.
Espero vocês por aqui!
Abraços,
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