Medeia: uma deusa, uma louca, uma feiticeira

 

Boaaaaa tarde, povooooo... Já são 15h e eu ainda estou com uma ressaca pesada. Já tomei dois Engov, mas a dor de cabeça está me despedaçando (piadinha sem graça, né? – mas já tô acostumado e me despedaçar e juntar todos os meus pedaços e voltar ainda mais forte)... kkkk

A noite de ontem foi pesada, fui visitar uma vinícola aqui no interior de Pelotas e vi que esse povo daqui sabe cultuar bem os meus ensinamentos milenares... hahahaah

Sem muitas enrolações, prometi que hoje contaria um pouco sobre uma das minhas tragédias preferidas: Medeia.

 

Medeia e eu somos descendentes de deuses, provavelmente ela seja uma prima bemmm distante. Sim, ela existiu... e assim como eu, teve muita gente empenhada em contar a história dela. Alguns criaram coisas terríveis sobre o que ela fez, outros por interesses políticos e financeiros, escreveram a vida dela por meio de encomendas de reis ou outros poderosos manipuladores.

Queria ter conhecido a moça de perto, dizem por aí que ela tinha muitos atributos positivos, apesar de ser muito rancorosa e vingativa (já tinha contado pra vocês que o povo grego carrega muita mágoa no coraçãozinho e gosta de vingar as dores que o mundo joga pra eles).

A tragédia pode ser considerada o primeiro gênero teatral da Grécia e era também o mais prestigiado, se colocando a frente da comédia e da tragicomédia. Inclusive, nas Dionisias, aqueles concursos que já tinha falado pra vocês que os Grego faziam em minha homenagem, para julgar as tragédias eram escolhidos pessoas da aristocracia, enquanto nas comédias, por exemplo, eram as pessoas da plateia que serviam de júri.

Creio que esse status de importância ocorra porque esses textos teatrais apresentavam histórias trágicas e dramáticas derivadas das paixões humanas as quais envolveriam personagens nobres e heroicas, como deuses, semideuses e heróis mitológicos.

Confesso que tenho um carinho muito especial pela comédia e falaremos dela na sequência, mas as tragédias, por se tratarem de dramatizações surgidas dos ditirambos, ou seja, dos cantos dedicados a mim, sempre foram as minhas preferidas.


Vou tentar ser muito fiel a história da Medeia, mas peço a licença do meu amigo Eurípedes, para não seguir a sequência narrativa feita por ele na adaptação feita em 431 a.C. Na ocasião o grande poeta apresentou duas outras tragédias e uma sátira, mas eu tinha bebido tanto que não lembro do que elas tratavam.

É interessante dizer que as pessoas que estavam assistindo a peça escrita pelo Eurípedes (e isso acontecia com todas as tragédias apresentadas nas Dionisias) já iam ao teatro conhecendo a história (ou as histórias) que inspiravam a peça. Então, para que a gente entenda os detalhes da trama, é primordial que conheçamos o romancinho de Jasão (o traidor) e Medeia (a mulher traída), além da viagem feita pelos Argonautas e a relação de todos esses com o velo de ouro (que nada mais é que um carneiro alado ou algo parecido com isso, mas de ouro que simboliza poder, riqueza e prosperidade).

Pra quem não tá por dentro da história, a Medeia é uma mulher traída e assim como Hera quis vingança pelos atos de traição do amado marido... E bota vingança nisso!

Apesar de mortal, a Medeia fez coisas inacreditáveis para cobrar do seu marido Jasão a “escapadinha” que o safado deu.

Mas... quem era Jasão e o que motivou o bonitão a trair a mãe dos filhos dele? (simmmm, Medeia e ele tiveram dois filhos)...

Então, Jasão era filho do Rei Éson que era irmão de Pélias. Pélias, outro traidor, rouba o trono do irmão Éson. (Tem um cara chamado Shakespeare que escreve uma história parecida alguns anos depois, que se chama Hamlet. Mas falarei disso numa outra ocasião).

Então, Pélias, o traidor obriga Jasão e a mãe dele a irem embora do reino. Algum tempo depois, já adulto, Jasão retorna e exige o trono do tio. Entretanto, não muito relutante, o tio diz que devolveria o trono ao sobrinho, caso ele trouxesse o velocino de ouro que está escondido em algum lugar de uma cidadezinha ao leste do mar negro chamada Cólquida.





Nisso, Jasão constrói uma embarcação (Argo) e chama uma tripulação (Os Argonautas - não confundir com a música do Caetano Veloso)e embarcam em uma viagem até a Cólquida buscar o velo de ouro. Chegando lá, ele encontra o rei do lugar e o rei aceita entregar o velo a eles, porém pede a ele e a tripulação que arem um terreno gigante que são guardados por dois touros terrivelmente ferozes. Além disso, eles deveriam plantar na terra arada uns dentes de dragão (que era o dragão que guardava o tal velo de ouro).


Nisso, a filha do rei de Cólquida (que já já contarei que é...) está ouvindo tudo e percebe que o pai não está interessado em ajudar Jasão, pois sabia que dos dentes de dragão nasceriam soldados inimigos (que provavelmente matariam todo mundo)...

Só que nisso, a princesa se apaixona pelo Jasão... e é aí que a história começa a ficar mais interessante. A princesa apaixonada promete ajudar o príncipe destronado na sua empreitada... Mas como uma princesa poderia ajudar numa situação como essa???

Sim... a princesa não era apenas uma princesa indefesa, ela era a MEDEIA... (pasmem!)

A Medeia, uma feiticeira super poderosa, neta do deus Hélios (deus do Sol).


Ela resolve fugir com o Jasão para viver esse grande amor... Nisso, para ganhar tempo no plano contra o pai, a feiticeira leva o irmão, o mata e esquarteja para que o pai ao juntar os pedacinhos do filho, perca tempo na busca pelo casal.  

Quando o casal chega com o Velo de Ouro, o Rei Pélias, se recusa a devolver o trono pra Jasão. Medeia ataca mais uma vez... ela faz amizade com as filhas do Rei e ensina um ritual de rejuvenescimento pro pai, só que ela diz pra meninas que elas deveriam cozinhar o pai num caldeirão. Nisso as filhas matam o pai e, por amor, Medeia comete mais um crime.

Em mais uma fuga do casal criminoso, eles vão para Corinto e chegando lá, Jasão é convencido a casar com a filha do Rei de lá (inclusive, quem faz isso é o próprio Rei de Corinto) e este monarca pretende expulsar Medeia e os filhos de lá.

É importante ressaltar que quando a peça do Eurípedes começa, a Medeia já sabe de todas as coisas que já contei pra vocês. A obra inicia com uma personagem chamada Nutriz, que localiza a plateia neste ponto da história. Aparece outro personagem chamado pedagogo, que tomava conta dos filhos do casal (que também sabe de toda a história e compartilha preocupações sobre o que Medeia seria capaz de fazer, já que conhecia o histórico da moça e reconhecia que ela não era muito de aceitar desaforos)...

Enfim, Medeia arma um plano para se vingar de TODO MUNDOOO – do Rei, da Princesa e do Jasão.

Medeia implora pro rei pra ficar mais um dia no Corinto, planeja MUITASSS formas de vingança, muitas mesmo, ela estava com tannnnta raiva do Jasão.



O cara teve a capacidade de culpar a Medeia por tudo que ela fez (só lembrando que ela fez isso pra ajudar o próprio Jasão). E ele ainda teve a capacidade de dizer a ela que estava casando com a princesa para dar uma vida melhor pros próprios filhos... (mas os filhos estavam sendo expulsos de lá... isso mostra que o casamento estava sendo feito em causa própria).

A vingaça começa com o pedido para ficar mais uns dias no Corinto e o rei permite, em seguida, Medeia envia presentes para a princesa (uma tiara e um vestido) através dos filhos, só que as peças estavam envenenadas (lembra que a Medeia era uma superrrr feiticeira?).

E aí começa a ficar mais sério ainda, o plano da Medeia era matar além da princesa, o rei e os filhos de Jasão (que eram também filhos da Medeia... sim, ela vai matar os próprios filhos...)

O plano da Medeia dá muito certo. A princesa, ao receber o presente, resolve experimentar e acaba morrendo. O rei, por consequência, tenta ajudar a filha e morre também.

Medeia decide matar os filhos para não os deixar na mão dos inimigos.


Na peça não se vê a morte dos filhos, mas se supõe o quão doloroso foi pros meninos.

A peça termina da maneira mais surpreendente: o deus Hélios envia uma carruagem voadora e Medeia foge com o corpo dos dois filhos.

 

Pareceu muito forte só de eu contar, né?

 

Imagina assistir tudo isso ao vivo e com os elementos cênicos super modernos da época. Nós, gregos fomos precursores desses elementos. Nessa fuga da Medeia, lembro claramente de uma máquina que funcionou como a carruagem. Foi incrível!

 Muitos outros escritores tentaram recompor essa história, mas a minha preferida é a peça original do Eurípedes. 

Se alguém tiver interesse em assistir essa história em filme, tem a versão do Pasolini que é brilhante. Indico a tod@s. (e tem a Maria Callas de Medeia, o que faz essa versão ser a minha segunda preferida)


Ahhhh e sempre que ouvirem esta música, vocês lembrem da Medeia...



Na semana que vem falarei sobre as minhas andanças por Roma e como a galera fazia Teatro por lá.

 Então, até semana que vem!

Dionniii.



Comentários